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A frustração e a falta de tempo depois do nascimento do bebé

A frustração e a falta de tempo depois do nascimento do bebé

Quando o bebé finalmente nasce todas as rotinas que já estavam alteradas com a gravidez, ficam absolutamente irreconhecíveis. Acordar várias vezes durante a noite, deixar de sair para trabalhar e passar a ficar em casa durante o dia, dar colo constante, mudar fraldas, amamentar, pôr a arrotar... um sem-fim de tarefas que equivalem a mais do que um trabalho a tempo inteiro. Quando já há Pulguinhas mais velhas então, mais complexo fica gerir o dia-a-dia.

Contudo, muitas mães têm a tentação de acreditar que, por estarem em casa com a nova Pulguinha, vão ter mais tempo entre mãos. Acreditam que vão conseguir pegar em projetos que deixaram para quando estivessem em casa, que vão conseguir tratar das rotinas de roupa, alimentação, compras, médicos, ginásio como faziam dantes. A verdade é que, na maioria das vezes, simplesmente não conseguimos. Estamos assoberbadas com os pedidos constantes da Pulguinha e, pior, chegamos ao final do dia com aquela sensação de que não sabemos para onde foram as horas, não conseguimos fazer tudo o que tínhamos na nossa lista. Às vezes nem conseguimos fazer nada do que estava na nossa lista.

 E é aqui que se instala a frustração.

Falámos com Dr.ª Rosa do Amaral – psicóloga clínica, especialista em Intervenção Familiar -, para perceber melhor este fenómeno e como melhor lidar com ele.

 

É comum esta sensação de frustração entre as recém-mamãs? Quais são as principais reclamações?

Sim, é comum, todas as mães (e talvez todas as mulheres) tenham esta vontade de se alargarem a uma existência quase sobrenatural e cheia de superpoderes, que nos exige uma gestão muitas das vezes pouco realista da nossa realidade e às vezes (se não sempre) causadora de uma grande frustração. As reclamações são feitas à volta de vários temas, embora quase todas se relacionem com o tempo, cansaço e volume de trabalho. As novas mamãs sentem-se más gestoras dos seus tempos, afundadas em trabalho e sempre com a sensação de que não fizeram nada durante o dia todo. Reclamam muitas vezes de sentirem que parece haver uma expectativa sobre elas, uma vez que estão em casa a tempo inteiro. Às vezes reclamam sobre os sentires resultantes de viver em função de uma nova pulguinha que dita os horários e com isso parecer que existe uma anulação do tempo individual.

Que estratégias podem ser adoptadas para resistir a esta tentação de querer fazer tudo?

Quando trabalho com mães de novas pulguinhas aconselho a que comecem o “trabalho” pela reformulação mental do que se está a passar. Oriento a mãe através de algumas questões que a façam reflectir sobre as suas escolhas, relativamente ao decidir ficar em casa com o bebé, questionando ainda quais são os objectivos de tal escolha. Estas questões ajudam-nos a relembrar o que nos faz querer ficar em casa.

Os primeiros meses são um processo de adaptação mútua, de uma aprendizagem sobre o outro, momentos mágicos que têm de se tornar o foco, para que as coisas mais pequenas possam ser filtradas diminuindo a sensação de frustração. A mãe que fica em casa, fica encarregue de um trabalho maior - o de cuidar do bebé. E nessas oito a dez horas, se pensarmos como trabalho o “cuidar do bebé”, não podemos pensar em trabalhar para várias entidades patronais ao mesmo tempo. Ou é o bebé ou é a casa. Ou é dormir uma pequena sesta junto da pulguinha, para recuperar tempo de sono e alguma sanidade, ou é a roupa e a cozinha, e as contas…

A mãe precisa de trabalhar em si as expectativas. Tudo o que se possa fazer para além de cuidar do bebé é um ganho e não uma obrigação, ou uma demanda. Adaptar ou baixar as expectativas é crucial para gerir as frustrações. Os primeiros tempos chegam a ser uma negociação com o relógio para que se possa tomar um banho ou ir à casa-de-banho, quanto mais para as listas infindáveis de trabalho que existem numa casa normal, ainda mais na casa onde surge uma nova pulguinha. As mães precisam muitas vezes de trabalhar no seu interior, a aceitação de ajuda, a delegação de tarefas, a distribuição de tarefas por familiares mais disponíveis ou fora de casa se puderem.

Estes primeiros momentos são cruciais para o desenvolvimento do bebé e da relação entre os dois, sendo esse o foco mais importante, as listas “têm” de ser realistas e aceitando que quando se tem uma pulguinha o tempo que sobra é muito diminuto, tendo de ser gerido com especial cuidado e com prioridades muito bem definidas.

Não se massacrem por roupa que não está passada a ferro, ou por não conseguirem aspirar a casa todos os dias, ou por comerem menos bem durante algum tempo.

Tudo o que fizerem pelo bebé, estão a fazer por vós e quando não tiverem de fazer nada pela pulguinha, façam por vós. Temos todas nós que aprender a reformular a culpa e as listas de afazeres na nossa mente, libertando espaço para a aceitação de que nos primeiros meses a nossa vida é a pulguinha e acreditar de que com o tempo a ordem volta.

Como encontrar o equilíbrio para as novas rotinas e quando é que é preciso consultar um especialista?

O equilíbrio vai surgindo pela descoberta dos ritmos da pulguinha e dependendo da filosofia que a mãe/pai tenham relativamente a rotinas. Há pais que vão dando maminha, sestas, etc, “on demand” e não por momentos estipulados previamente. Nesse caso, nos primeiros tempos é tentar aprender qual é a dança, reconhecer se começam a existir padrões, percebendo o ritmo do bebé.

O balanço entre as suas necessidades e as nossas respostas vai resultando do conhecimento da pulguinha e dos seus pedidos. Quando sentirmos que existe um padrão, podemos começar a organizar melhor o nosso dia e com isso, também as nossas vontades ou necessidades. Antes disso não é positivo, pois pode levar-nos (a nós mães) a um estado de exaustão, frustração e até depressão. O foco pode ser o de que, primeiro estabelecemos as rotinas do bebé e conforme essas fiquem definidas, então podemos avançar para as nossas. Sempre numa adequação das expectativas. Antes da nova pulguinha fazer os seus quatro a seis meses, não devemos pensar que temos as nossas rotinas em ordem e a casa num brinco. O tempo passa depressa, adaptemos o pensar para que possamos usufruir em pleno deste milagre de ser mãe. Tudo o resto pode ir esperando um pouco. E não esquecer…aceitem ajuda.

Penso que se deve procurar a ajuda de um especialista quando a mãe não se consegue sentir bem consigo mesma, experienciando os sentimentos negativos de forma intensa parecendo que estes estão a tomar posse de si e das suas vivências.

Sobre Rosa do Amaral

Psicóloga Clínica, PhD

Intervenção Familiar, de Casal e Reabilitativa

Clínica Europa em Carcavelos

http://www.rosadoamaral.net/

http://onorteosrepare.blogspot.pt/

www.facebook.com/Nós-Familiares-Terapia-e-Apoio-Familiar

 

 

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