Estivemos à conversa com a Dra. Cátia Pereira, (Psicóloga Social, especialista em Parentalidade Consciente e autora do novo livro “Confiar, Amar, Crescer”) sobre os vínculos que criamos, sabemos manter ou deitamos a perder no nosso dia a dia. Sendo que todos são importantes, há alguns mais fundamentais que outros e ter a inteligência emocional para saber cuidar e alimentar esses vínculos pode fazer a diferença para uma vida feliz e equilibrada. Porque todos “somos dignos de amor e merecemos relações saudáveis” vai valer a pena não perder esta conversa.


Falar de vínculos seguros é falar de algo essencial?

É imprescindível falar de vínculos seguros. Muitos de nós vivemos em sofrimento nas nossas relações, estamos exaustos, confusos e perdidos, sem saber como construir algo saudável. Esquecemo-nos do que é mais importante, que nós somos seres de vínculo e que estamos programados inconscientemente para os criar. Tomando consciência dessa força intrínseca, fica a faltar-nos o que nos faz sentir seguros, o que nos dá prazer e o que nos permite aceder ao nosso bem-estar. Confesso que não é fácil, mas é sempre possível, independente dos nossos vínculos de origem criados com as nossas figuras de vinculação primárias.  


Entre quem é fundamental que existam esses vínculos? E por quê?
 
Entre todos nós. Entre filhos e pais e de pais para filhos, entre amigos, entre companheiros, colegas de trabalho e chefes. Não podemos afirmar que temos vínculos seguros com os nossos filhos quando no trabalho a relação com os nossos colegas de trabalho é muito conflituosa.  Assim, cada vez mais devemos procurar criar uma ponte, um elo afectivo emocional respeitoso dos nossos limites, que nos permite comunicar o que é importante para nós. Claro que cada contexto tem a sua particularidade e um nível de intimidade e de vulnerabilidade específico. Conhecer essas diferenças permite que o nosso vínculo possa mais seguro, porque vamos ao encontro das nossas necessidades emocionais, de conexão, de pertença e de segurança.

E quando falham? O que sucede e que consequências pode trazer essa falha?

É muito natural os vínculos falharem e ter essa percepção permite o mais importante: reparar o vínculo. O vínculo seguro não é uma linha contínua no tempo, ele não é garantido, nem para todo o sempre. E sim, ele é tecido por momentos de presença e por outros momentos de separação. Quando existem separações, ou quando existem conflitos, o vínculo rompe. Porque ficamos tocados nas nossas feridas, de que não podemos pertencer, que estamos errados, que não somos vistos. Se não cuidarmos dessa reparação, dialogando, dando espaço ao outro, cuidado do que estamos a sentir, vamos aumentar a distância que temos do outro e cada vez menos estamos em vínculo seguro.


Confiar, amar, crescer… pode ser entendido como uma receita para uma parentalidade feliz?

Sim! Adoraria que cada vez mais famílias, mães, pais, educadores, que todos nós praticássemos mais esta arte de estar em Vínculo. Confiar muito na criança e no seu desenvolvimento, confiar que a cada momento como educadores sabemos o que é necessário e essencial para a criança ser feliz. Amar sem cobranças, sem manipulações, sem mentiras, sem ameaças, sem violência. Amar com o que temos, com o olhar, o toque, a presença, a escuta e a palavra certa. Aprender com os erros, com as nossas dores, para que possamos crescer e expandir cada vez mais este vínculo. Vamos sempre a tempo de crescer, de ganhar maturidade emocional. E crescer implica desapego e quebrar com os ciclos de dependência emocional. Um crescimento sem medo. Aquele que toda a criança procura.

A quem se destina este livro?

Este livro destina-se a todos nós que pretendemos criar vínculo seguro. Destina-se aos pais, porque ao saberem o vínculo dos seus filhos conseguem orientá-lo para um vínculo seguro. Destina-se aos filhos que pretendem curar as suas relações com as suas mães e pais, relações que influenciam e muito as relações atuais. Destina-se a quem pretende criar amizades mais livres, a ter relações com os colegas e com os seus chefes mais saudáveis. Destina-se àquela parte de nós que ainda tem muito medo de estar no mundo e que precisa de uma mãe que a ajude a crescer, o que eu chamo de “maternar-nos", sermos mães de nós próprios.


Se houvesse um só take-away deste livro qual destacarias?

Que vamos sempre a tempo de estabelecer vínculos seguros. Que a nossa história de vida, que as nossas emoções, os nossos traumas não nos definem, apenas nos influenciam. Que quanto mais em paz estivermos com a nossa história e formos libertando os pesos da nossa infância insegura e instável, mais facilmente em adultos criaremos relações seguras.
Somos dignos de amor e merecemos relações saudáveis. Que possamos passar esta aprendizagem às nossas crianças.

Sobre a autora:

CÁTIA PEREIRA
PSICÓLOGA, AUTORA do livro Confiar Amar e crescer E ESPECIALISTA EM VINCULAÇÃO SEGURA

Sou Psicóloga e dedico o meu trabalho a cada pessoa e a cada família que pretende encontrar um vínculo mais seguro consigo e com quem é importante para si. Cada vez mais sinto que pelo meu percurso profissional e vivência pessoal, que cada um de nós têm a capacidade de reescrever a sua forma de ser e estar em relação com o outro. Pode-lhe parecer clichê, mas começa em si. Consultas online e presenciais (Lisboa).
Contactos: catia@vinculosseguros.com | www.catiapereira.pt |