Pulguinhas

Novos produtos

Novos produtos
Todos os novos produtos
“O colo não estraga, a falta dele sim!” Entrevista com Rita Rendas

“O colo não estraga, a falta dele sim!” Entrevista com Rita Rendas

Quando ainda há tantos pais convencidos que o choro do bebé não passa de manipulação, que pode ser ignorado, que é algo a ser ultrapassado, esta torna-se numa conversa incontornável. Com Rita Rendas, psicóloga clínica e mãe, tocamos nos pontos sensíveis das nossas crenças quanto ao choro, a ideia de birras e ao papel dos pais/ adultos. 

Se ficares com qualquer questão ao ler esta entrevista deixa em comentário e vamos responder-te. 

Rita, obrigada por esta entrevista. Tens ajudado a advogar pelos direitos dos bebés em serem ouvidos e obrigada por isso. 

Diz-nos, os bebés choram por manha?



Não! Não! Os bebés comunicam as suas necessidades através do choro, já que antes da fala é a sua forma de comunicação por excelência. Além de que, os bebés e as crianças pequenas regulam-se através do toque. Pensemos… quando nós adultos não estamos bem, um abraço ajuda, certo? 

Porque é que quando colocamos isso em cérebros imaturos e em desenvolvimento, consideramos que é “manha”? 

Se o bebé está habituado a ter colo, quando se sente desconfortável e o exprime através do choro, vai esperar que o adulto o pegue ao colo e o contenha, se isso não acontecer, é natural que chore mais porque precisa desse colo e essa é a sua forma de o comunicar! 







Os bebés e crianças não se sabem autorregular e só o vão aprender, com a ajuda de um adulto que seja mediador nessa regulação emocional, que legende as suas necessidades (“oh tens fome!” “oh tens soninho!”) e ajude a suprimi-las com afeto, previsibilidade e consistência para que a criança desenvolva um apego seguro e aí, ao longo do seu desenvolvimento, se torne autónoma pois sabe que pode explorar livremente que tem uma base segura para onde voltar, se algo acontecer. 




Do que falamos quando falamos de regulação emocional?



Primeiro que tudo, é importante saber que as bases da regulação emocional são plantadas nos primeiros anos de vida através da relação de apego. A regulação emocional diz respeito à capacidade de alguém para gerir as suas emoções, ou seja, capacidade não só para identificar a emoção, bem como (caso o momento evoque um sentir de valência emocional negativa) para reagir a esta emoção de forma o mais equilibrada e saudável possível. Sendo que, quando isto não acontece, também é regulação emocional termos a capacidade para reparar a situação (exemplo: reconhecer que não estivemos bem, clarificar o que sentimos e pedir desculpa) onde não estivemos tão bem. Ainda quero realçar que esta capacidade de regulação emocional influencia a relação entre os impulsos e os comportamentos, reforçando a capacidade de tolerância à frustração!

 






O que sabemos hoje sobre o colo contraria o que foi sempre ensinado aos pais? 



Sabemos que o toque é essencial para regular os bebés e crianças. 

Sabe-se também que é muito importante que os pais estejam emocionalmente disponíveis para o bebé e criança, que seja capazes de validar as suas emoções já que os cérebros dos bebés e crianças são modelados pela relação de apego que estas desenvolvem com as suas figuras de referência.

 




O que é que a ciência defende hoje que muda a forma como criamos e educamos?

 

Segundo a literatura sabe-se que as relações de apego são fundamentais para o desenvolvimento estrutural do hemisfério direito do cérebro que está envolvido no processamento das emoções, autorregulação e gestão de stress. A investigação demonstra que o controlo relativamente à resposta emocional é diretamente dependente da interação afetiva que o bebé/criança tem com as suas figuras de apego (Milozzi & Marmo, 2022; Schore, 2001). 

A capacidade de regulação emocional influencia a relação entre os impulsos e os comportamentos e reforça a capacidade de tolerância à frustração. As emoções das figuras de apego são importantes porque as crianças têm como referência as expressões afetivas dos adultos, por forma a modelar o seu comportamento (Dio Bleichmar, 2005). 





Assim, pretende-se que a mãe vá co-regular as emoções da criança e quanto mais sincronizadas estão emocionalmente, maior a probabilidade da mãe conseguir acalmar a criança em momentos de angústia, pois será um porto seguro.

 

 

É como se quiséssemos que a criança estivesse sempre feliz e tranquila, mas não temos essas expectativas para o adulto, pois não? 



Sim, existe também (infelizmente) muita positividade tóxica a rodear o mundo dos adultos. No entanto, as crianças parecem não ter o direito a certas emoções básicas como a tristeza e a raiva – que são essenciais para o seu desenvolvimento saudável.

Queremos jovens que pensem fora da caixa, que sejam autónomos, que saibam gerir emoções e tolerar a frustração… mas educamos as crianças para a repressão emocional, para a obediência, para fazer tudo “como deve ser” (seja isso o que for!). É paradoxal, não é? Exigimos coisas aos jovens, que enquanto educadores não lhes proporcionamos em crianças… torna-se injusto para eles. Ninguém está sempre feliz e tranquilo, não é expectável que perante um desenvolvimento normal e as oscilações naturais da vida, que a pessoa esteja rígida e fixa num modo-de-ser. 

É importante SENTIR e não nos privarmos disso, para existirmos precisamos de nos permitir sentir o mundo, as pessoas e sermos capazes de verbalizar as nossas emoções.







Adoro a frase “o colo não estraga, a falta dele sim”! Como é que a falta de colo pode ser prejudicial?



Como já referi, os bebés e as crianças pequenas regulam-se através do toque e do colo. Assim, se não o tiverem, há um risco maior de desenvolverem um apego inseguro, por exemplo. Também terão maiores dificuldades a nível de autoregulação, já que se sabe que o controlo relativamente à resposta emocional é diretamente dependente da interação afetiva que o bebé/criança tem com as suas figuras de apego. 

Para além de que, o colo traz segurança, faz o bebé/criança sentir-se acolhido, amado, calmo e aceite – pontos fundamentais para um desenvolvimento saudável. Não tenham medo do colo!

 



 




Então, quando o bebé ou criança faz birra precisa de um castigo?



Não! Quando nós agimos mal, choramos ou nos chateamos precisamos de um castigo ou de ser ouvidos e acolhidos? O que é que é transformador da angústia e traz a calma… um castigo ou ser acolhido por quem amamos?

O bebé e a criança precisa de ajuda do adulto para regular as suas emoções e o seu comportamento. Assim o adulto deve reconhecer o estado emocional da criança, retirá-la do local stressor, abraçá-la, falar-lhe num tom calmo, legendar o seu estado emocional e relacioná-lo com o estímulo que o causou e assim, está a legitimar os estados emocionais da criança. 

Se o fizer, consistentemente, a criança vai ter a experiência não só de apego seguro, como de confiança e segurança nos seus adultos de referência (já que são previsíveis) – o que a levará a desenvolver autonomia (sim, ao contrário do que se possa pensar no senso comum, a autonomia vem da dependência e não do desapego ou distanciamento) pois saberá que se precisar, terá acolhimento e segurança, logo fica mais confiante e livre para explorar o mundo.

 






Deve também evitar dizer-se à criança “já passou” quando ela está a chorar ou “não chores” porque estamos apenas a contribuir para a repressão emocional da criança e são “ensinamentos” que ficam presos à pele… e depois, enquanto se desenvolvem, podem cristalizar estas crenças e vir a tornar-se adultos com muita dificuldade em expressar a tristeza e a raiva e com muita dificuldade para gerir as emoções. Se não dizemos às crianças para parar de rir quando estão felizes, porque lhes dizemos para parar de chorar quando estão tristes? O choro é um meio de expressão e comunicação da emoção e é essencial – no bebé, na criança, no adolescente e no adulto!

 




Nesse sentido, o Sling, que é um facilitador do colo, é uma mais valia?

 



Claro que sim! Seja porque permite o contacto muito próximo entre mãe/pai e bebé, como se torna um aliado a nível de proporcionar conforto e colo, aliviando a mãe/pai a nível de força necessária para manter um colo prolongado. Sestas em contacto, no sling ou fora dele, são muito benéficas para mãe e bebé.

 






Sabe mais e segue a Psicóloga Rita Rendas:



Email: rendas.ana@gmail.com

Instagram: @psi_rita_rendas

 

Sumário Autobiográfico: Tenho uma filha e sou psicóloga clínica (formada pelo ISPA-IU), pós-graduação em Terapias Assistidas por Animais e Formação em "Apego como imperativo Biológico" no Instituto Europeo de Salud Mental Perinatal. 

Trabalhei durante 4 anos em contexto escolar e há dois que trabalho online acompanhando adultos. Faço conteúdos sobre saúde mental e parentalidade respeitosa no meu instagram profissional.

Deixar um comentário