O autismo e o babywearing - uma entrevista que muda tudo! Com Coralina Matos
A Coralina Matos tem desenvolvido o seu percurso profissional trazendo o conhecimento sobre Intervenção Precoce no Autismo e Desenvolvimento Infantil a todos os profissionais da área clínica. Com esta visão sobre as características do espectro do autismo no bebé e sobre o trabalho terapêutico que é feito no sentido de as equilibrar, esta é uma conversa que só podia mesmo passar pelo colo.
E, na Pulguinhas, não há colo duradouro e feliz sem Sling, por isso, era natural que as nossas visões se complementassem.
O convite para esta entrevista nasce do testemunho de pais Pulguinhas que me relataram o poder do Sling na evolução dos seus bebés.
Coralina Matos vai estar em Portugal: dia 14 de Outubro, nos Açores, para alguns workshops e dia 19, em Lisboa, para um treinamento destinado a pais, profissionais e estudantes. Sabe mais aqui .
É claro que também vai explicar tudo às famílias Pulguinhas, com direito a LIVE no Instagram da Pulguinhas no dia 30 de Setembro às 16h (Portugal), 12h (Brasil)!
Guarda já na agenda!
Como é que podemos definir o autismo em bebés e crianças pequenas?
A partir do 6º mês de vida devemos observar o contato visual do bebé, durante o banho, a amamentação, a alimentação e outros momentos da rotina. Se esse bebé olha, se mantém o contato visual, e observa pessoas que se movem pelo ambiente da casa, se olha quando os pais ou alguém familiar chega conversando.
Outro ponto a observar é o sorriso social, durante as brincadeiras e atividades, se a criança sorri durante esses momentos. E por fim, se a criança já balbucia em resposta a fala, aos gestos e e aos sons emitidos pelos cuidadores.
A partir de que idades começa a ser possível despistar e perceber se o desenvolvimento do bebé é regular ou se precisa de ser acompanhado?
Desde o nascimento o acompanhamento aos Marcos do desenvolvimento e aos reflexos já devem ser acompanhados pelos pais e pelo médico pediatra. Existem algumas tabelas que os pais podem ir acompanhando para identificar sinais de atrasos.
Que indicadores podem dar essa informação cedo?
A dificuldade em segurar a cabeça e o tronco quando segurado no colo, ausência dos reflexos neurológicos, dificuldade em seguir objetos com olhar ou olhar em direção a um som, ausência de movimentos dos membros (braços e pernas), choro em excesso ou ausência de choro. Esses são alguns indicadores de que o neurodesenvolvimento necessita de uma avaliação mais cuidadosa e específica.
O que devem os pais fazer perante um diagnóstico de autismo?
A investigação diagnóstica é clínica, não existe exame que seja capaz de detectar o diagnóstico de Autismo. Então os pais devem buscar consulta com Neuropediatra, e normalmente é indicado que a criança passe por avaliação com Fonoaudiólogo (Terapeuta da Fala em Portugal), Psicólogo, Terapeuta Ocupacional, entre outros, vai depender das questões apresentadas pelos pais e observadas pelo médico. Ao final da avaliação e dos resultados obtidos o médico irá concluir o diagnóstico.
E a partir daí é importante que os pais busquem por profissionais que lhe transmitam segurança, pois a intervenção precoce no Autismo é fundamentada em 3 pilares: família bem orientada, profissionais qualificados, escola com olhar inclusivo.
Quais são algumas das principais características partilhadas entre crianças que se encontram dentro do espectro do autismo?
De acordo com o manual internacional de diagnósticos (DSM V TR) são 5 critérios para esse diagnóstico:
Critério A- Déficit na comunicação e interação social, como: Dificuldade em iniciar e manter conversas; Uso limitado de gestos e expressões faciais; Dificuldade em formar e manter relacionamentos.
Critério B - Comportamentos repetitivos e interesses restritos, como: Movimentos repetitivos ou fala estereotipada; Insistência em rotinas rígidas; Foco intenso em interesses específicos; Sensibilidade elevada ou baixa a estímulos sensoriais.
Critério C - Os sintomas surgem na infância, mas podem não ser evidentes até que haja maiores demandas sociais.
Critério D - Esses sintomas afetam significativamente a vida social, profissional e pessoal.
Critério E - Os sintomas não são explicados por deficiência intelectual ou atraso global no desenvolvimento.
A dificuldade em estabelecer comunicação costuma ser um desses pontos?
Sim. Conforme o critério A do Manual Diagnóstico a comunicação verbal e não verbal são um dos pontos principais. Geralmente os pais observam o sinais de atraso devido a ausência da fala. Mas devemos ressaltar que comunicação e fala são domínios diferentes.
O Sling e a prática de babywearing podem contribuir para estimular o interesse em comunicar e interagir?
Sim, muito!
Durante a prática de Babywearing tem um aumento das oportunidades de contato visual, observação, imitação de pequenas expressões e brincadeiras sociais, aumento da motivação da criança pela interação social, regulação sensorial e emocional. Os cuidadores devem aproveitar esse momento e associar as oportunidades de ensino para a criança. Cada nova experiência gera novas conexões neuronais, e o ambiente tem papel fundamental nesse enriquecimento de experiências.
Costumas incentivar os pais a terem colo e o pele a pele com o seu bebé ou criança com autismo? É comum haver rejeição deste contacto?
Entre as orientações da intervenção precoce esses momentos são orientados. Mas é importante que se conheça as individualidades e preferências de cada criança. Não há um único padrão de preferências, o que se sabe é em torno de 90% das crianças autistas tem uma disfunção no processamento das informações sensoriais, cada uma de sua forma única. Algumas vão preferir o contato de pele com pele, outras irão preferir o uso do Sling para fazê-las sentir-se aconchegada, outras poderão evitar o colo e contato físico. Já outras crianças gostam tanto do balanço ritmado que mesmo não gostando muito do contato de pele vão querer o colo, entre tantos outros exemplos. É fundamental que os pais observem o que auxilia mais a regulação emocional e sensorial de seus filhos, desde a forma como gostam de ser colocados no colo ou no Sling, até mesmo o ritmo que preferem ser balançados.
Vale a pena trabalhar no sentido da criança aceitar mais o colo e a presença? Como é que este trabalho pode ser feito?
Somos seres em constante evolução e amadurecimento, então a criança que hoje não gosta muito do colo pode mudar suas preferências ao longo da vida e vice versa. Geralmente conforme crescem e aprendem novas habilidades tendem a querer explorar os ambientes, o corpo, as sensações, mas em algumas situações específicas nada poderá substituir um colo cheio de afeto. Vale a pena investir em momentos de qualidade, seja no colo ou sentados lado a lado, a presença da família torna o desenvolvimento mais afetivo e motivador, por gerar mais segurança.
O babywearing pode também ser uma ajuda na aceitação do abraço? Ou pode ser demasiado intrusivo para o bebé?
É interessante que haja a oferta, de preferência a momentos cheios de motivação por parte da criança. Mas diante da recusa a insistência poderá tornar o Babywearing em algo aversivo, e não é esse nosso objetivo.
Para tudo tem o momento certo, tem hora de brincar e explorar, tem hora para acalmar e ganhar colo. Esse equilíbrio deve ser o principal objetivo de ensino dos pais, que a criança saiba que tem liberdade para brincar e ter novas descobertas, mas que ele também reconheça o caminho e a forma de pedir pelo colo em momentos que necessitar de regulação, carinho, contato físico.
Algumas crianças tendem a recusar mais que outras, e sei que é desafiador para alguns pais lidarem com essa situação. Mas isso não quer dizer que a criança não queira companhia, carinho, conforto e afeto, é que algumas tem formas diferentes de pedir e aceitar.
Onde é que os pais podem ficar a saber mais sobre o que é o autismo e ter a tua ajuda e acompanhamento?
Falo sobre Intervenção Precoce no Autismo diariamente, tanto no meu Instagram @coralinamatos.to quanto no meu canal do YouTube "Coralina Matos".
Moro e trabalho no Brasil, mas a cada 6 meses tenho sido convidada para Congressos e Treinamentos em Portugal.
Sobre a Coralina:
Sou Coralina Matos, tenho 39 anos, casada e mãe de duas filhas, uma com 12 anos e diagnóstico de PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção) e a menor com 6 anos e diagnóstico de PEA (Perturbação do Espectro Autista). As duas receberam muito colo e embalo com o uso do Sling.
Sou Terapeuta ocupacional, trabalho na área clínica infantil há 12 anos, especializada em desenvolvimento infantil, Análise do Comportamento Aplicada, Intervenção Precoce no Autismo, com certificação em Integração Sensorial de Ayres, e no Modelo Denver de Intervenção Precoce no Autismo.
Tenho duas clínicas especializadas em atendimento para crianças de 0 a 6 anos, com foco na participação Familiar, e no acompanhamento Individualizado do desenvolvimento de cada criança.
Além disso dou palestras, cursos e formações Profissionais, também para pais e professores, já são mais de 40 mil alunos, no Brasil, Portugal, EUA, Espanha.
Contactos:
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