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O choro do bebé é manipulação?

O choro do bebé é manipulação?

Hoje estamos à conversa com a Enfermeira Diana Fialho, para te dizer quais são as melhores práticas para lidar com o choro de recém-nascidos ou bebés pequeninos. Será que o teu bebé te manipula? Será que quando chora e não te deixa dormir está só a “fazer birra”?

Agora que estalou a polémica com o vídeo da influente Rita Pereira, e há várias vozes procurando que se normalize que os bebés choram, como quem diz que “deixa chorar porque está a chorar sem motivo”, ficou evidente que esta é uma conversa que precisamos de ter. 

Então, o que fazer quando o bebé chora e não é fome, nem fralda? O que fazer quando estamos exaustas e há muito choro noturno? Espreita as respostas a estas e outras perguntas e não deixes de partilhar com os pais que estão a precisar de saber isto sobre o seu bebé.

Olá, Diana, bem-vinda de novo à Pulguinhas. Ainda há quem acredite que um bebé chora por “birra” e tivemos há pouco um exemplo que gerou um amplo debate. Acreditei que essa ideia do bebé que manipula já tinha sido ultrapassada na “nossa” geração. Tu também? De onde vem essa ideia e por que persiste tanto?

A ideia de que um bebé chora por "birra" vem de uma visão do desenvolvimento infantil, enraizada em crenças culturais ultrapassadas que atribuem comportamentos intencionais a bebés pequenos. 

Durante muito tempo, acreditou-se que atender prontamente ao choro do bebé poderia "mimá-lo" ou torná-lo dependente, reforçando a ideia de que o choro seria uma forma de “manipulação”.

No entanto, a ciência atual mostra que os bebés choram porque essa é a sua única forma de comunicação. O choro pode comunicar necessidades físicas como fome, desconforto, sono, fralda suja…e também necessidades emocionais, como de contato, regulação emocional, mimo, segurança…

Os bebés não têm maturidade neurológica para manipular ou fazer "birra" da forma como os adultos que acreditam e seguem estas crenças entendem – isto exige um nível de raciocínio e intencionalidade que eles ainda não possuem.

Esta crença persiste porque é passada de geração em geração e porque, muitas vezes, o cansaço e a falta de informação/formação em desenvolvimento infantil, a falta de acesso a informações científicas válidas, ou simplesmente porque acreditar nisso torna a rotina dos cuidadores mais "fácil" e faz com que os cuidadores acreditem no que vão ouvindo sobre comportamento infantil, através da amiga, da mãe, do pai, dos avós, dos vizinhos e muitas vezes e infelizmente ainda, de profissionais de saúde que os acompanham. 

Afinal, se um bebé chora "sem motivo", seria mais fácil ignorá-lo do que tentar compreender e responder às suas necessidades reais. Além disso, há uma resistência à mudança de paradigmas sobre a parentalidade, e ideias antigas podem ser reforçadas por discursos autoritários sobre como criar os filhos hoje em dia. 

Superar esta visão requer educação e divulgação do conhecimento científico, além de uma mudança na forma como a sociedade encara as necessidades emocionais dos bebés. Sendo assim, é importante passar a estes pais que as necessidades emocionais são tão legítimas quanto as físicas.

O que realmente acontece com um bebé quando ele chora e não recebe resposta? A nível emocional e até biológico?

Quando um bebé chora e não recebe resposta, isso pode gerar uma série de eventos que comprometem o seu bem-estar.

A nível biológico acontece um aumento imediato do cortisol, o sistema de alerta ativa com consequente aumento de FC e FR e fadiga e desgaste fisiológico pode ocorrer de seguida. A nível emocional e psicológico o bebé desenvolve com o tempo uma sensação de insegurança (que é tudo o que ele não precisa para dormir bem), maior dificuldade em se organizar e regular, à medida que cresce e se desenvolve e desvínculo emocional aos seus cuidadores.

Vamos por partes:

Biologicamente: 

 - O choro prolongado sem resposta desencadeia uma elevação dos níveis de cortisol (hormona do stress), que pode afetar o desenvolvimento do cérebro, especialmente em áreas ligadas à regulação emocional.

- Ativação do sistema simpático (de luta ou fuga), pois sem o conforto dos cuidadores, o bebé entra num estado de alerta, que lhe acelera os batimentos cardíacos e a frequência respiratória.

- Bebés que choram sem resposta podem experimentar uma queda na temperatura corporal, dificuldades na regulação da saciedade e do processo de digestão e até alterações nos padrões de sono, levando a desgaste fisiológico.

Emocionalmente:

- O bebé aprende que as suas necessidades não são atendidas, o que pode comprometer o desenvolvimento de um apego seguro tão importante nos primeiros meses de vida com os seus cuidadores e a desenvolver uma sensação de insegurança.

- Sem a presença de um adulto que o ajude acalmar-se, o bebé não desenvolve mecanismos saudáveis de regulação emocional. Isto pode resultar a longo prazo numa maior dificuldade para lidar com frustrações e stress durante a infância e na vida adulta.

- Se um bebé repetidamente chora sem receber resposta, ele pode parar de chorar, mas não porque aprendeu acalmar-se sozinho, mas sim porque percebeu que o seu choro não gera nenhuma resposta nem tão pouco acolhimento. Isto pode ser confundido com "independência", mas, na verdade, é um mecanismo de defesa contra a falta de conexão emocional - desamparo aprendido

Em suma, a responsividade consistente ao choro do bebé não é "mimar", mas sim uma necessidade fundamental para o desenvolvimento saudável do sistema nervoso e do vínculo emocional com os seus cuidadores.

Como podemos ajudar pais e cuidadores a entender que responder ao choro do bebé não é “ceder”, mas sim atender a uma necessidade real? Como é que podemos desfazer esta ideia de birra?

Penso que o melhor caminho é mostrar evidência científica com empatia e sem julgamentos.

Mostrar que os bebés quando nascem não têm ainda maturidade neurológica para manipular ninguém nem fazer birras. A parentalidade é um caminho que se faz, não adianta tentarmos ser perfeitos à primeira, não vamos conseguir, o importante é realmente percebermos onde podemos melhorar, e se o meu trabalho servir para melhorar a consciência de algumas famílias de que responder ao choro do bebé não é "ceder", mas sim atender a uma necessidade real dele, então missão cumprida.

Depois fazer o paralelismo a outras necessidades básicas também normalmente ajuda bastante, como fome, sede, cansaço…do género: “ ninguém questiona se um bebé tem fome ou não”, aliás quando choram muitas vezes a tendência é logo assumir que é fome e colocar logo algo na boca, seja a mama seja biberão…então porque não podem apenas necessitar de conforto e proximidade física, que foi isso que tiveram durante 9 meses?

Também importa explicar que na dependência se cria a independência, desenvolver esta ideia de que quanto mais responsivos forem agora, maior autonomia vão criar no futuro, isso ajuda a ajustar expetativas e a “aceitar” melhor as demandas nos primeiros meses. 

Um apego seguro na infância favorece a independência saudável no futuro.

Haverá famílias que podem beneficiar de prova social destes exemplos, pode ser benéfico mostrar casos reais, muitas vezes é isso que faço nas minhas redes de que é sempre possível melhorar algum aspeto do sono nos bebés quando estes se sentem seguros e atendidos. Esta mudança de mentalidade não depende apenas dos pais, mas também da sociedade em geral. Profissionais de saúde, educadores e familiares desempenham um papel importante ao oferecer apoio e validar a importância da resposta ao choro, em vez de perpetuar crenças ultrapassadas. Tal como possuir uma rede de apoio seja formal seja informal para que o auto-cuidado materno também seja priorizado - quando estamos exaustos é mais difícil estarmos 24/7 disponíveis para o bebé. Esse é um aspeto do qual falo bastante nas minhas consultas também.

Bebés choram porque é sua forma de comunicação. Como os pais podem distinguir um choro que precisa de acolhimento de um choro que faz parte do processo natural de adormecer?

Distinguir os diferentes tipos de choro do bebé pode ser um desafio para os pais, especialmente nos primeiros meses. Como o choro é a principal forma de comunicação, todo o tipo de choro merece atenção, mas nem sempre significa que há um problema a ser resolvido. Alguns bebés choram como parte do processo de relaxamento antes de dormir, enquanto outros choram porque precisam de algo específico, como aconchego, alimento ou conforto.

Então um choro que precisa de acolhimento e respostas do ponto de vista das necessidades físicas carateriza-se por:

- Um choro crescente, desesperado ou agudo que pode indicar fome, dor ou necessidade de contato - Mudanças na intensidade e no tom do choro

- Se o bebé mexe muito os braços e pernas, arqueia o corpo ou faz caretas de desconforto, pode estar a tentar comunicar que algo o incomoda 

- Quando o bebé chora sem pausa e com sinais de angústia, pode ser um pedido urgente de ajuda - Choro intermitente ou contínuo

- Estar atentos a sinais físicos: coloca a mão na boca ou faz movimentos de sucção? Pode ser fome. Contorce-se e mexe as pernas? Pode ser cólicas ou desconforto digestivo. Boceja, esfrega os olhos ou vira a cara?  Pode ser sono.

Já um choro que corresponde a libertações de tensões antes de dormir e como forma de exteriorizar frustrações geralmente tem características diferentes:

- É um choro mais monótono, sem sinais de desespero - Tom mais suave e previsível:

- Chora por um ou dois minutos, faz pequenas pausas e parece estar a acalmar-se gradualmente, pode ser um sinal de que está apenas a processar o sono - Duração curta

- Com claros sinais de sonolência

- O choro começa por ser forte, mas vai diminuindo até o bebé dorme.

Nestes casos, oferecer presença e conforto são suficientes para que o bebé se sinta acolhido. Deixar o bebé a chorar sozinho sem resposta pode gerar stress e aumento dos níveis de cortisol desnecessariamente e dificultar o desenvolvimento de uma boa relação com o sono.

Para pais que estão exaustos e sentem que acolher o bebé constantemente durante a noite está a ser desgastante, quais as estratégias que podem ajudar a equilibrar o acolhimento com a necessidade de descanso da família?

Então por norma nas minhas consultas eu começo primeiro por perguntar aos pais qual o objetivo com a consultoria e ajustar as expetativas consoante a idade do bebé.

Depois explico a importância do autocuidado materno em especial para as mães com fraca rede de apoio, para aliviar a carga e a fadiga.

E falo muito do que é o sono do bebé, de como vai ser no futuro, o que é de esperar, na maneira como evoluiu, no que é diferente do sono do adulto, porque penso que quando as família estão informadas como funciona, se aceita melhor o que vai acontecendo e das irregularidades ao longo dos primeiros anos - saberem que os despertares noturnos são normais nos primeiros meses pode ajudar a reduzir a frustração.

Se não for possível ter ajuda extra de um familiar próximo, contar com uma rede de profissionais de suporte e fazer parte de grupos de mães pode ser uma alternativa para evitar a exaustão extrema.

Depois estratégias mais práticas no momento são, o sono compartilhado seguro, ou berço acoplado à cama dos pais, para reduzir a necessidade de se levantar várias vezes, e isto pode ser apenas temporário enquanto o bebé passa por uma fase mais desafiante ou a mãe está bastante cansada, pode ajudar também para os bebés que o toleram, serem amamentados deitados, o que torna o processo menos cansativo, e alterar turnos de cuidados ao bebé com o pai, dividindo-se a meio da noite, possibilitando que ambos descansem por períodos mais longos.

É importante lembrar que as mães (e também os pais, embora de forma mais ténue), passam por adaptações hormonais que as ajudam a lidar com a privação de sono, acontece uma elevação de algumas hormonas que influenciam o estado de alerta e a capacidade de se manterem acordadas, no entanto isto não significa que a privação de sono não afete a mãe a longo prazo.

E depois, tal como para o bebé, adotar comportamentos promotores do sono como um ambiente calmo, relaxante, silencioso e escuro e com temperatura adequada, evitando demasiados estímulos antes dormir.

Muitas vezes parece impossível, mas nas fases mais desafiantes, fazer sestas junto com o bebé ajuda a restabelecer a energia e gerir o cansaço bem como ajuda na própria regulação do bebé. Assim que possível podem os pais também começar a ajudar o bebé a adormecer com menos intervenção de forma progressiva, e claro para isso estou aqui para os ajudar.

Queres saber mais sobre o sono do bebé e encontrar soluções de descanso que podem funcionar para a tua família? Encontra aqui as respostas da Enfermeira Diana Fialho sobre O que fazer para o bebé dormir à noite.

Sobre a Enfermeira Diana Fialho: Licenciada em EnfermagemPós graduada em Sono Infantil e na Adolescência, Telefone: 920 492 785, email: geral@babiesplace.com.pt

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