O que fazer para o bebé dormir à noite?
Co-sleeping, bed-sharing e tudo o que precisas de saber em entrevista.
A nossa querida Enfermeira Diana Fialho, regressa à Pulguinhas para nos falar sobre o sono do bebé. As noites sem dormir são um dos principais focos de problemas na família, que colocam em causa bem-estar e saúde. Mas há soluções para que todos consigam descansar melhor? Nesta conversa falamos de soluções. Fica a saber o que são o co-sleeping, room-sharing, bed-sharing, o que é recomendado, que cuidados a ter e será que podem ser opções para a tua família.
Não deixes de partilhar com as famílias que precisam de uma boa noite de sono com o seu bebé pequenino.
Muitos pais recorrem ao sono partilhado para atender melhor às necessidades do bebé. O que diz a ciência sobre esta prática? Quais são os benefícios?
O sono partilhado é uma prática adotada por muitos pais para facilitar o atendimento às necessidades do bebé durante a noite, em especial as mães para facilitar a amamentação.
A ciência tem investigado essa prática sob diferentes perspetivas, incluindo segurança, desenvolvimento emocional e impacto no sono do bebé e dos pais.
Há poucos dias saiu um estudo da Associação Portuguesa de Sono que nos fala disso mesmo e que também deu bastante que falar pelos diferentes profissionais de saúde que trabalham com famílias, parentalidade e sono.
Vamos começar por diferenciar, existem dois tipos de sono partilhado:
- Co-sleeping: O bebé dorme próximo aos pais, mas numa superfície separada, como um berço acoplado à cama.
- Bed-sharing (compartilhamento da cama): O bebé dorme na mesma cama que os pais. Essa prática pode ser feita mediante o cumprimento de algumas questões de segurança, mas também pode representar riscos acrescidos para o bebé, dependendo do ambiente em que é praticado.
As principais entidades de saúde, como a Academia Americana de Pediatria e a Organização Mundial da Saúde, recomendam que o bebé durma no mesmo quarto dos pais (room-sharing/ co-sleeping) nos primeiros meses, mas numa superfície separada, para reduzir o risco de Síndrome da Morte Súbita do Lactente. No entanto, pesquisas recentes mostram que o bed-sharing, quando feito com medidas de segurança adequadas, pode trazer benefícios para o desenvolvimento do bebé.
E estes são:
- Ser facilitador da amamentação com aumento da duração do aleitamento materno. A proximidade facilita as mamadas noturnas, promovendo a produção de leite e fortalecendo o vínculo entre mãe e bebé.
- Ser adjuvante da regulação do bebé, nomeadamente da regulação dos padrões da respiração, da temperatura corporal e dos próprios padrões de sono do bebé, quase que acontece uma sincronia dos ciclos de sono entre mãe e filho. Alguns estudos indicam mesmo que bebés que dormem perto dos cuidadores tendem a ter despertares noturnos mais curtos e menos intensos.
- Estar próximo dos pais aumenta a sensação de segurança do bebé, reduzindo o stress e os níveis de cortisol. Isso contribui para um sono mais tranquilo e menos despertares associados ao desconforto emocional.
- Propicia o desenvolvimento do apego seguro, pois estes bebés que têm as necessidades atendidas de maneira responsiva, inclusive durante a noite, tendem a desenvolver um apego mais seguro. Isso pode impactar positivamente a sua independência e regulação emocional no futuro.
- E claro, melhoria na qualidade de sono dos pais, pois estes relatam que o sono partilhado reduz o tempo de vigília noturna, pois permite atender rapidamente ao bebé sem a necessidade de se levantar repetidamente.
O que é essencial para que o sono partilhado seja seguro e bom para toda a família? Quais são as regras?
Para que o sono partilhado seja seguro e benéfico para toda a família, é essencial seguir algumas diretrizes baseadas em evidências científicas. O principal objetivo é minimizar os riscos e garantir que tanto o bebé quanto os pais tenham um descanso de qualidade.
Primeiro que tudo escolher o tipo de sono partilhado mais seguro - Room-sharing ou Bed-sharing.
E depois atender às questões de segurança criando um ambiente de sono seguro na cama, para os casos em que se opte pelo Bed-sharing como colchão firme e plano, sem cobertores, almofadas ou peluches ou as chamadas naninhas/doudous, bebé sempre de barriga para cima, exceto quando é amamentado em que pode adotar a posição lateral, estar do lado de um dos pais e não no meio, protegendo claro, para que não caia da cama (grade lateral p.e.), atender ao sobreaquecimento, promovendo roupa adequada ao bebé, a temperatura recomendada do ambiente de sono é entre os 18°C e 21°C.
Para esta prática os pais não podem fumar, consumir álcool ou substâncias que causem sonolência. E também é desaconselhada no caso de pais obesos e extremamente cansados ou sono pesado, e de bebés prematuros ou baixo peso à nascença.
É totalmente desaconselhado os sonos em sofás ou em poltronas, pois aumenta o risco de quedas e asfixia, pois são superfícies macias. Depois é essencial que o sono partilhado seja uma escolha consciente, e ambos os pais precisam estar confortáveis com a decisão.
Se um dos cuidadores estiver inseguro ou desconfortável, o room-sharing (bebé no próprio berço, mas no mesmo quarto) pode ser uma alternativa mais tranquila.
Existe um momento ideal para a transição do bebé da cama dos pais para o berço ou cama própria? Como os pais podem fazer essa mudança de forma gradual e respeitadora?
Se os pais desejam que o bebé durma sozinho no futuro, é possível fazer uma transição gradual para o berço ou para outro quarto, respeitando o tempo da criança e mantendo um ambiente seguro e acolhedor. E para isso é necessário ter um plano de transição, sendo aqui que muitas vezes entra o meu trabalho com a consulta de sono do bebé, para ajudar os pais na elaboração de um processo de aprendizagem e estratégias para esta mudança.
Não há um momento ideal para a transição do bebé da cama dos pais para o berço ou cama/quarto próprio, pois cada família e cada criança têm ritmos e necessidades diferentes. No entanto, alguns marcos de desenvolvimento e recomendações podem ajudar os pais a identificar o momento certo.
Segundo a Academia Americana de Pediatria a recomendação é que os bebés durmam no mesmo quarto dos pais até pelo menos os 6 meses, idealmente até 1 ano, pois isso reduz o risco de Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL). Aqui apenas interfiro se a família tiver feito esta transição ou decidir fazê-la mais cedo e aí ajudo na passagem do bebé para o seu quarto.
A minha experiência com as famílias diz-me que entre 1 e 3 anos é onde muitas famílias optam por iniciar a transição, especialmente se o bebé já tem um padrão de sono mais previsível. Algumas crianças aceitam melhor a mudança entre os 18 meses e os 2 anos.
Após os 3 anos, caso a criança ainda durma na cama dos pais e a família sente necessidade de fazer a transição, pode ser um bom momento para introduzir uma abordagem mais estruturada, respeitando a capacidade da criança de compreender e participar do processo. Muitas vezes nestas idades já é um processo mais moroso e mais difícil e desafiador para os pais. Mas com uma estratégia bem estruturada e gradual é possível. Sem o empenho dos pais normalmente não há resultados.
Mais importante do que a idade é observar a prontidão da criança e a disponibilidade emocional da família para a mudança. A transição deve ser feita de forma suave e respeitadora, garantindo que a criança se sente segura e acolhida.
Podemos começar por criar associações positivas ao futuro espaço de sono, ou seja, começar por fazer toda a rotina do dia do bebé aqui, exceto os sonos, como por exemplo as mudas de fralda, a rotina pré-sono, a alimentação, brincar, tornar este um espaço acolhedor, confortável e familiar. Permitir que este explore o espaço para que não o estranhe. Depois continuar o processo de forma gradual, começar por transitar as sestas para este novo espaço antes do sono noturno, e só depois transitar o sono da noite, sempre acolhendo quando necessário. Isto é de extrema importância.
Continuar a ser responsivo a todas as solicitações da criança, pois forçar esta separação ou deixar a chorar sozinha só vai gerar maior resistência.
Ao mesmo tempo que tudo isto acontece, manter a mesma rotina e horários de sono regulares é essencial, não queremos mais mudanças a dificultar o processo.
Algumas crianças aceitam melhor a mudança se os pais ficarem ao lado da cama até que adormeçam, reduzindo gradualmente esta presença.
Se a criança acordar de madrugada e voltar para a cama dos pais, isso pode ser normal no início. O objetivo é encorajá-la de forma positiva a voltar para sua própria cama, com o tempo ela aceitará.
Sendo a regra nº 1 para o sucesso muita consistência, paciência e persistência e ser uma mudança positiva para todos sem pressões, reconhecendo que podem haver momentos de retrocessos - Isto é o que se chama ajustar expetativas.
O que fazer quando um dos pais deseja praticar a cama compartilhada e o outro não se sente confortável com essa escolha? Como chegar a um consenso respeitando as necessidades do bebé e da família?
Primeiro que tudo é fundamental que esta decisão seja tomada de forma consciente e baseada nas necessidades da família como um todo.
A comunicação entre os elementos do casal é essencial onde ambos expressem as suas preocupações em relação a esta questão e cada um poder dar os seus argumentos e os seus contra-argumentos.
O objetivo nunca é “ganhar” uma discussão, mas compreender os sentimentos do outro e encontrar um caminho que funcione para ambos.
Depois se necessário procurar informação científica que valide os motivos (facilitar a amamentação, atender melhor às necessidades do bebé, fortalecer o vínculo e sobretudo sobre a independência futura em relação ao sono do bebé, sono seguro, benefícios emocionais e também fisiológicos como os que já falamos anteriormente).
A independência não é prejudicada pela proximidade na infância aos cuidadores, pelo contrário, um apego seguro favorece o desenvolvimento da autonomia no futuro. Pesquisar juntos pode ajudar a tomar uma decisão mais informada, reduzindo medos e mitos.
E se mesmo assim persistirem opiniões divergentes em relação à cama partilhada podem-se explorar alternativas e encontrar um meio termo que funciona para ambos. Como o Room-sharing que falamos em cima através de berço tipo Next to Me, um colchão extra ou mini cama no quarto ou até cama compartilhada parcial, isto é, o bebé pode começar a noite no seu espaço e, se precisar de contato, ser acolhido na cama dos pais por um período determinado.
Estas opções vão equilibrar a necessidade de segurança e conforto do bebé com o bem-estar dos pais. Ter presente que nenhuma decisão é definitiva e deve ser reavaliada sempre que necessário, o que funciona hoje pode não ser a melhor solução daqui a alguns meses, até porque o bebé cresce e as suas necessidades também mudam.
O importante é que ambos os pais sintam que a sua opinião é valorizada e que o bem-estar do bebé continua a ser prioridade. O equilíbrio entre as necessidades do bebé e o bem-estar da família exige diálogo, flexibilidade e disposição para encontrar soluções que funcionem para todos.
Existem bebés que realmente “se acostumam mal” ao colo ou ao aconchego noturno, como algumas pessoas dizem, ou essa proximidade é uma necessidade legítima nos primeiros meses?
Isto é um dos mitos que mais se perpetua junto das famílias, ainda hoje em dia no seio da minha família ouço algo do género “então, mas ganhou bisma por ti?” e a verdade é que não tem qualquer base científica, OU MELHOR TEM: CHAMA-SE APEGO SEGURO.
A proximidade aos cuidadores é uma necessidade legítima e biologicamente fundamentada no início da vida.
Bebés que são acolhidos desde cedo aprendem que o sono não é um momento de separação dolorosa, mas sim de segurança. Isso facilita a transição para o sono independente no futuro, pois a criança não precisará de lutar contra o medo da solidão. Quando um bebé é confortado ao chorar, ele começa a associar o acolhimento ao alívio do desconforto, aprendendo gradualmente a lidar com as emoções de forma saudável. Crianças que foram acolhidas desde bebés tendem a demonstrar menor incidência de ansiedade, insegurança e dificuldades emocionais na infância.
É preciso mais evidência do que esta?
Os bebés não têm maturidade neurológica para se acalmarem sozinhos, então o colo não é um "hábito ruim", mas sim uma forma de ajudá-lo a aprender, com o tempo, a auto-regulação. Os bebés nascem extremamente dependentes e precisam dessa proximidade para se sentirem seguros e protegidos.
Quando um bebé sabe que pode contar com os cuidadores, ele sente-se mais confiante para explorar o mundo à medida que se desenvolve. Faz-vos sentido?
Negar colo ou aconchego com medo de "estragar" o bebé pode gerar mais insegurança, tornando-o mais ansioso e dependente no futuro.
É precisamente o efeito oposto.
A verdadeira independência não vem da privação de contato, mas sim de uma base segura construída através do atendimento responsivo às necessidades do bebé.
Com base nesta premissa o aconchego noturno faz parte do desenvolvimento do sono.
Nos primeiros meses, o bebé tem ciclos de sono imaturos, acorda frequentemente para mamar e precisa do contato dos pais para se sentir seguro ao adormecer. Isto é natural e esperado. Portanto o contato noturna ajuda o bebé a adormecer mais facilmente e a regular os seus ciclos de sono e bebés que recebem acolhimento quando choram tendem a desenvolver um sono mais tranquilo e estruturado a longo prazo.
Forçar uma separação precoce pode aumentar o stress do bebé, dificultando ainda mais o sono. Com o tempo e à medida que o bebé cresce, ele naturalmente aprende a dormir de forma mais independente, sem precisar de "treinos" ou afastamento forçado. Depois disto ainda acreditas que o colo e o aconchego noturno nos primeiros meses são "manias" ou "vícios"?
Queres saber mais sobre a forma como o teu bebé comunica as suas necessidades, incluindo o choro por sono, fome ou fome de colo? Fica a saber se O choro do bebé é manipulação? - em entrevista com a Enfermeira Diana Fialho
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