O método “Cry It Out” ou “deixar chorar” - técnicas para o bebé dormir sozinho
Como especialista em babywearing, psicóloga de formação e mãe de quatro rapazes, com mais de 20 anos a acompanhar famílias, vejo com preocupação o regresso de uma prática que já devíamos ter deixado para trás: o chamado “cry it out”,ou seja, o método de deixar o bebé chorar por períodos progressivos até adormecer sozinho.
O que é o método “Cry It Out”?
A ideia é simples, mas profundamente errada: colocas o bebé no berço, satisfazes as suas necessidades básicas - entenda-se mamar e ter a fralda limpa, e depois ignoras o choro por intervalos cada vez maiores até que, supostamente, ele "aprenda" a adormecer sozinho.
Alguns métodos recomendam não voltar ao quarto de todo. Outros, como o “método Ferber”, sugerem visitas cronometradas. Há até mães a aplicar isto a bebés com 14 semanas, um recém-nascido com um cérebro ainda em formação, que nem sequer distingue dia e noite com clareza.
E isto é altamente perigoso para o desenvolvimento do bebé.
Agora atenção, eu também sei que nenhuma mãe faz com intenção de prejudicar o seu bebé, por isso vou ser sempre contra os ataques que são, muitas vezes, feitos a estas mães que tentam usar estes métodos.
O que quero é que mais mães tenham o colo de que também elas precisam para poderem cuidar dos seus bebés. E isso passa por melhor informação.
A ilusão do “sleep training”
Vamos esclarecer uma coisa essencial: o bebé não pode ser “treinado” para dormir.
O sono não é um comportamento a ser ensinado, é um processo biológico em maturação. Um recém-nascido não está a aprender nada ao ser deixado a chorar.
E se o bebé não está a aprender também podes ter a certeza que não está ensinado. Por isso ele não sabe manipular e não, ele não testa limites. Ele comunica como sabe e pode, com o seu choro e chamamento. E quando ninguém responde, o máximo que o bebé aprende…é a não chamar.
O que se passa com o chamado sleep training ou técnicas para o bebé dormir sozinho é que o bebé desiste, é apenas uma adaptação por desistência. O bebé desiste de chorar porque percebeu que não vem ninguém. Isto tem um nome: desapego aprendido. E isto é uma das piores lições que qualquer mãe pode ensinar.
Os riscos reais do “Cry It Out”
Entre os enormes problemas com este método do deixar chorar está o potencial de quebra do vínculo afetivo.
O choro ignorado ensina ao bebé que as suas necessidades emocionais não têm resposta. Isto compromete o vínculo seguro, base essencial para todas as relações futuras. O bebé fica emocionalmente instável e sente-se inseguro.
Isso leva a stress tóxico e a níveis elevados de cortisol. Porque o choro prolongado e não respondido eleva o cortisol, a hormona do stress. Em excesso, ela pode afetar o desenvolvimento cerebral, o sistema imunitário e a capacidade de auto-regulação.
Tudo isto compromete o desenvolvimento emocional do bebé. São já vários os estudos que mostram que bebés sujeitos a este tipo de abandono emocional têm maior probabilidade de desenvolver ansiedade, baixa auto-estima e dificuldades em confiar. Um dos estudos mais cruéis e, ao mesmo tempo, mais famosos foi desenvolvido com bebés e crianças de um orfanato na Roménia.
Este é sem dúvida um dos estudos mais marcantes sobre os efeitos da ausência de vínculo afetivo e foi realizado nos anos 90, onde centenas de bebés eram alimentados e mantidos limpos, mas sem qualquer contacto físico ou emocional consistente.
As consequências foram devastadoras: atrasos cognitivos e motores, dificuldades graves de vinculação e alterações permanentes no desenvolvimento cerebral. Esses bebés “sobreviveram”, mas não prosperaram. Este estudo é uma prova clara de que nutrir não é só alimentar, é tocar, responder, estar.
Por isso, é importante que saibas que estes métodos de Cry It Out e semelhante vão contra o que hoje sabemos sobre neurodesenvolvimento.
Nos primeiros anos de vida, o cérebro desenvolve-se a uma velocidade extraordinária. É uma janela sensível e única, sobretudo nos primeiros dois anos. O que ali se constrói, fica. E por isso, é preciso estar presente, disponível, próximo.
Podes dizer-me que isto faz tudo sentido, “mas eu estou exausta…”
E tens razão. Ser mãe (ou pai) é profundamente exigente, sobretudo quando o cansaço se acumula e o sono parece um luxo distante. Eu sei e tenho acompanhado centenas de famílias que passaram por fases limite. O que posso garantir-te é que vai acalmar. As rotinas vão chegar, mas os primeiros anos podem não ser ainda tempo para elas.
E os atalhos, como o Cry It Out, não resolvem o problema, apenas o escondem. E, pior, criam outros.
Aqui na Pulguinhas, sabemos que não há fórmulas mágicas. O que vale a pena dá trabalho. E criar um bebé dá muito trabalho. Mas também sabemos que há formas de aliviar a carga sem sacrificar o vínculo.
O Sling e a prática de babywearing, por exemplo, dá-te os braços extra que faltam. Permite que o teu bebé durma ao teu colo enquanto fazes outras tarefas, enquanto descansas, enquanto o acolhes sem te anulares.
Mas não quero que penses que este artigo se dedica a querer vender-te um Sling ou outra coisa qualquer. O que gostava mesmo que levasses daqui é a importância de responder ao teu bebé, de dar consolo e abraço duradouro e frequente. Porque isto é não só o que lhe vai fazer muito bem ao longo de toda a vida, como o que vai fazer com que consigas descansar e ter uma criança mais autónoma e confiante, mais cedo.
Fica com estas certezas:
Que os bebés merecem resposta, sempre.
Os bebés não manipulam.
Os bebés não aprendem a regular-se sozinhos.
Que o colo é uma necessidade, não é um vício.
Que a presença materna ou paterna é insubstituível.
Que os primeiros anos são uma fundação para a vida toda.
E sobretudo, que tu não estás sozinha.
Junta-te à comunidade Pulguinhas e encontra a experiência de outras mães que também já passaram ou estão agora a passar o mesmo que tu.
Aqui falamos de parentalidade real. Partilhamos estratégias para atravessar as noites difíceis e os dias caóticos, mas sem sacrificar o coração da maternidade, o colo, a escuta e o vínculo.
Se te identificas com esta forma de parentalidade, partilha com outras mães e pais. Pode ser a peça que falta para alguém perceber que não precisa de desistir da intuição e que pode navegar o mar de cansaço com “bóias salva-vidas”.
Estamos contigo e o teu bebé. Desde o primeiro colo.
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