A importância de dizer a verdade
Recentemente celebrou-se mais um Dia das Mentiras e aproveitamos a ocasião para olhar para além das brincadeiras e partidas. A 1 de Abril costumamos estar habituados a romper com a rotina e a normalidade de viver com verdade, para pregar algumas ‘petas e mentiras’ aos mais distraídos e este ano não foi exceção. A prática espalha-se a jornais e televisões, entre amigos e até no seio das empresas. Mas se as partidas e tretas que pregamos no dia das mentiras podem ser motivo para diversão, as mentiritas que as Pulguinhas nos contam podem revelar ser um motivo de preocupação.
Para saber se há motivo para falar com o pediatra ou um especialista, importa perceber que nem todas as mentiras são iguais. Há vários tipos de mentiras, tanto a 1 de Abril, quanto no dia a dia.
Entre os adultos temos as chamadas mentiras ‘brancas’ as que dizemos para não ferir sentimentos. E estas são uma aprendizagem contrária ao que a maioria das crianças faz: ser brutal e honestamente verdadeira nos seus comentários. Aprendemos a utilizar estas mentiras para não ferir as suscetibilidades, mas às tantas, pode ser mais complexo gerir estas pequenas mentiras do que dizer logo o que se pensa. As crianças normalmente não têm a sensibilidade para este tipo de mentiras e é por isso que se diz que são extremamente honestos. E isso, acreditamos, é uma coisa boa. Nenhuma Pulguinha deve ser incentivada a mentir ou a dizer algo em que não acredita. Ensiná-la a preocupar-se com os sentimentos dos outros é importante, mas dizer-lhe que deve oferecer um cumprimento quanto não o sente como verdadeiro, envia mensagens trocadas do que queremos que a Pulguinha aprenda sobre a importância de dizer a verdade.
Depois há as mentiras da imaginação. Quando estamos num contexto de brincadeira estas mentirinhas de fazer de conta são saudáveis. Não estamos a lidar com uma mentira das que podemos considerar como perigosas, das que alteram a realidade e tentam manobrar e manipular em proveito próprio.
Neste campo temos, por exemplo as omissões. Aqui tanto estamos a falar da inócua regra do ‘se não há nada de bom a dizer, mais vale ficar calado’, como podemos estar a falar já de uma tentativa de esconder a verdade. Passamos de uma mentira por simpatia, mas uma omissão que existe mais pela defesa pessoal e aqui já o caso muda de figura. Quando a Pulguinha omite uma informação que pode ser importante, às vezes até mesmo quando questionada sobre o assunto, já demonstra um comportamento que pode pedir uma outra abordagem ao assunto.
Ter compreensão de que algo está mal e procurar esconde-lo já é uma escolha da Pulguinha que merece ser chamada à atenção. Falando com ela sobre a importância de dizer a verdade e de contar as coisas importantes, tendo a preocupação de entender o porquê de não ter desejado contar logo o que se passou.
Se a Pulguinha evita contar a verdade por receio da nossa reação é importante assegurar que estamos tristes ou magoados, mas não zangados com ela, ou sobretudo, não estamos zangados com o facto de ter contado. Queremos garantir que a Pulguinha, em qualquer idade, se sente à vontade para contar aos pais tudo o que acontece de relevante na sua vida e consegue partilhar tudo o que a preocupa sem receio de ser julgada.
Finalmente a mentira pura e dura. A que vai para lá da omissão, o ponto em que passamos de: ‘não fui eu’ - para o - ‘foi ele’. Aqui estamos perante uma ação que, se a Pulguinha tem compreensão de que está a causar dano a outros como resultado da sua mentira, pode implicar ter que tomar medidas para lidar mais a sério com a questão. A melhor abordagem é uma visita ao pediatra que pode ajudar a resolver ou encaminhar para um especialista. Quando a Pulguinha tem a compreensão do peso das suas ações, sabe diferenciar bem e mal, e escolhe deliberadamente mentir, isto pode significar que é preciso ter várias conversas para ajudar a corrigir o comportamento, estimulando a empatia e sublinhando a importância de dizer a verdade – todos os dias do ano.
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